Querido diario de verao brasileiro,

Ainda tenho o gosto do ultimo vinho que tomei na casa da minha familia francesa, de como deixei as crianças, de ter acordado minha companheira e amiga no meio da madrugada (a mae) que em prantos, assim como a filha (ai meu coraçao), vieram me dar tchau. Lembro de como o taxista falava sem parar e eu nao escutava uma palavra. De como chorei no aviao, das duas horas que fiquei pra pegar minhas malas, da paixao de outono que deixei pra tras, de amigas especiais que dividi tudo e mais um pouco... Da saudade desse frio, das 5 combinaçoes de roupas, do mal humor frances, ok, voltar pro Brasil é sempre uma boa idéia!
Que misto de sensaçao ver minha mae e minha Isabel em Brasilia. De chegar em Goiania que conheço desde sempre e reconhece_la pelos pedaços, de nao saber o nome das ruas e ao mesmo tempo saber exatamente onde ela é, e lembrar das pessoas e da vida que deixei em Paris, ao mesmo tempo lembrando da vida e das pessoas que tinha deixado no cerrado. Essa bagunça me deixa quasi_zumbistica, trêmula. Reaçao de choque quando abraçava as pessoas. Minhas tias que nao via ha um ano!
Ok, começo a chorar bicas de desespero quando as pessoas fazem filmes caseiros, com musicas afetivas e fotos. Alias, foram trilhares de filmes. Mas quem nao chora com filmes caseiros???
Quanto + filme, + choro... Ficamos bebados, dormi, acordei, fui na feira e a vida seguiu seu curso rapidamente.
Prometi que escreveria, mas pareceu mais logico escrever sobre o Brasil na França, faz sentido?
A correria pra achar o novo visto começou no dia seguinte, logo depois que anunciei na festa de chegada: estou voltando de novo...
Ok, checada rapida de acontecimentos burocraticos: começa entrando numa academia pra ter onde deixar o suor que voce gasta, escolhe curso, paga, recebe pre inscriçao, consegue moradia na França (falsa, pede pra amigos fingir que vao te dar de graça casa, comida e roupa lavada por tempo indeterminado), inventa dinheiro no banco, poe nome no dinheiro, o seu nome, cadastre-se no site de relaçoes internacionais França_Brasil, pague o site que nao sabe todas as informaçoes, nao vota porque o governo nao cadastrou seu dedo, cadastre seu dedo na data certa, espera a data de cadastramento de dedos, dedos ok, atualize seu passaporte, faça novo passaporte, espere a data pra buscar novo passaporte, dedos no passaporte, nao saia da academia, faça um seguro de vida, seguro de morte, seguro de acidente, de sobrevida, de caixao viajando no céu caso voce morra fora do pais e seu corpo precise voltar a tempo pro funeral (sim, vc tem q conversar com pessoas simpaticas sobre isso), passagem (nossa... a novela das milhas), vai pra Brasilia, faz entrevista, foto, mais dedos, natal, pausa pra festa em familia (que alias, foi feita em 3 partes, terminando a ceia em pizza), curso de revisao de frances, intensifica o treino da academia, volta pra Brasilia, pega visto, pega passaporte, começa as malas e dengue... Af... Prefiro nao comentar.
Entre academia, visitas, encontros, amigos, lembranças, pamonha, pequi, guarana e arroz com feijao, me apaixono de novo. Me pergunto se devia escrever um livro: amor com data de validade. Isso me acontece sempre que estou com passagem comprada! Mas enfim, esse é um blog publico e nao vou publicar uma intimidade amorosa detalhada (so se fosse pra uma editora de verdade).
Dengue vai embora, voltamos aos afazeres, mas dessa vez estamos realmente sem tempo, passagem marcada com data limite de inscriçao na faculdade. Malas prontas (alias, a histoira das malas também nao foi nada mal, perde mala, acha mala, compra mala, joga mala fora, compra mais mala porque de ultima hora voce ultrapasou 10 kilos a mais que o permitido: é o secador, eu sabia!).
Ufa, malas prontas (todas as duas, ou melhor, tres).
Coraçao renovado. Vi minha familia quase o tempo todo. Aproveitei amigos que, na verdade, nao estavam assim tao distantes, mesmo aqueles que tinham + de um ano sem ver. Vi crianças que cresceram, outras que nasceram e ainda bem que o ciclo de evoluçao foi até ai. Trabalhei. Um pouco. Tipo, leituras, bancas, reunioes. Ok, quase nada. Mas academia até o fim, ou melhor, até a dengue.
Contactei a França, c'est bon, posso ir.
Enfim, churrasco, bobo de camarao, amigos, familia, choro de novo, malas. Choramos todos, malas fechadas, documentos impecaveis, plurais pleonasticos.
Fui....
Volto a falar no singular.
Cheguei, ainda estou no meio das bagunças burocraticas aqui. Depois conto detalhes.
Mas o detalhe importante nesse momento: meia noite, do dia 14 de fevereiro (niver do meu pai e dia dos namorados, by the way), tenho as chaves de um apartamento que acabei de assinar contrato.
Mas prometo escrever sobre o processo burocratico daqui (assim que ele acabar)... E sobre o reencontro do lado de ca. Ai fica um nota de suspense esperando o proximo capitulo (ou pq se eu colocasse a burocracia brasileira e a francesa em um so poste ia ser insuportavel).


Ps.: Pra quem nao entendeu, isso tudo pra dizer que fui embora da França, passei ferias no brasil, voltei eeeeeee aluguei um ape em Paris!

Ps.2: Pra quem nao tem ideia, alugar qualquer coisa em uma das capitais do mundo é uma das tarefas de Hercules.

Ps.3: Voltamos ao teclado francês sem todas as possibilidades de acentos!